Oficineiros da saúde mental: uma análise sobre as concepções, práticas e formação profissional do trabalhador que atua no âmbito do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS)
A Reforma Psiquiátrica brasileira marca a mudança de paradigma no cuidado às pessoas em sofrimento psíquico, valorizando sua subjetividade e impulsionando práticas comunitárias como as desenvolvidas nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Dentre essas práticas, destacam-se as oficinas terapêuticas, frequentemente conduzidas por oficineiros, trabalhadores, em geral com ensino médio, cuja atuação tem ganhado relevância no cotidiano dos dispositivos. Esta pesquisa busca discutir a trajetória formativa e o trabalho dos oficineiros egressos dos cursos de Atualização Profissional em Práticas Grupais em Saúde e de Qualificação Profissional em Saúde Mental (EPSJV/Fiocruz), que atuam nos CAPS. Trata-se de um estudo qualitativo realizado em duas etapas: análise de plano de curso dos cursos e entrevistas semiestruturadas com quatro oficineiros formados entre 2018 e 2023. Os resultados indicam que a maioria dos participantes tinham ligação prévia com a arte e, em algum momento, atuaram no comércio antes de ingressarem no CAPS. Suas trajetórias são marcadas por iniciativas próprias na busca por formação, impulsionadas pela necessidade de conhecer o campo que estão inseridos, além do desejo de ofertar cuidados que considerem a subjetividade de cada sujeito. Apesar do uso de expressões variadas pelos entrevistados, houve consenso ao apontarem as oficinas como um espaço de cuidado em saúde mental. As entrevistas evidenciaram que os cursos contribuíram para a qualificação profissional, ao ampliarem repertórios teóricos e práticos, e promoverem espaços de reflexão, oferecendo subsídios para a problematização da prática nos dispositivos de atenção psicossocial.