Ser enfermeira na Saúde da Família: entre sofrimentos, prazeres e construção de identidade: um estudo autoetnográfico

Este estudo teve como objetivo investigar de que forma a organização do trabalho, em unidades básicas de saúde regidas por Organizações Sociais de Saúde, influência a vivência da trabalhadora enfermeira, bem como o seu processo de enfermagem. A dissertação apresenta por característica metodológica a autoetnografia, com o uso de diários reflexivos da autora sob a análise do referencial teórico da Psicodinâmica do Trabalho. Compreendendo que o trabalho apresenta-se como fator estruturante da identidade do indivíduo, seja por estabilizar seu aparelho psíquico ou por desequilibrá-lo, esta produção textual permite analisar as dinâmicas de prazer e sofrimento estabelecidas perante a organização do trabalho, além de identificar aspectos do cuidado em saúde desenvolvido através da inteligência prática e de estratégias defensivas coletivas. O uso dos diários reflexivos, escrito ao longo de seis anos da trajetória da autora, possibilitou a imersão nos casos analisados e a interlocução com o referencial teórico adotado, concluindo que, diante da intensificação da sobrecarga de trabalho, perda de direitos trabalhistas, avanço das medidas de austeridade e a privatização do
setor público da saúde, o adoecimento mental é irreversível e apresenta bloqueios entre a mobilização subjetiva relevante ao ato de trabalhar e a própria organização do trabalho, por meio do trabalho prescrito. Apreende-se que, na conjuntura atual, é imediata a necessidade de ações eficazes à saúde dos trabalhadores e trabalhadoras, em especial, àqueles que diariamente exercem a construção de um Sistema Único de Saúde público, constantemente atacado pelo avanço neoliberal.

Data: 
2020
Autor: 
Mariana Nogueira Marconsin
Orientador: 
Danielle Ribeiro de Moraes