O precariado escondido sob o véu da formação profissional: o caso das residências em área profissional da saúde

Acredita-se que o Programa de Residência em Área Profissional da Saúde, é uma estratégia de (re)orientação profissional, com formação orientada pelo e para o trabalho. No entanto, pode ser um processo contraditório: para os gestores a formação oferecida está “(re)orientando” a formação dos profissionais, para os residentes caracteriza uma condição de qualificação para ingressar no mercado de trabalho. Desta forma, a presente pesquisa tem como objetivo, analisar os sentidos atribuídos à formação profissional, ao treinamento em serviço e ao trabalho nos Programas de Residência em Área Profissional da Saúde e suas possíveis relações com a precarização do trabalho em saúde. A pesquisa tem como referencial teórico as concepções do materialismo histórico-dialético. Desenvolvida em uma perspectiva qualitativa, utilizando como procedimento metodológico as técnicas de análise documental e entrevistas semi-estruturada, além de levantamento bibliográfico pertinente ao tema. Os dados foram categorizados pelos núcleos temáticos que emergiram e posteriormente analisados. Foi constatado em primeiro momento a escolha da residência como formação, mas apontada também como o mínimo para o mercado de trabalho e por dificuldades de inserção logo após a graduação. Configurando a residência enquanto prolongamento da escolarização versus estreitamento do mercado de trabalho. Relatos que estão submetidos as condições de trabalho precárias, como jornadas extensas de trabalho, com relações precárias e sem garantias de direitos trabalhistas. Sendo, a residência foi considerada como um trabalho híbrido, por vezes, repetitivo, alienado e sem reflexões. Os residentes estão submetidos a forma mais recente da precariedade. Considerada trabalho para além do seu sentido ontológico, como trabalho no sentido econômico adquirido no modelo capitalista. Essa hibridez do trabalho/formação, sendo uma máscara do caminho do aprendizado pelo e para trabalho que justifica a reprodução de um modelo precarizado de trabalho na saúde, indo na contramão da formação e do trabalho potencializador do SUS.

Data: 
2018
Autor: 
Camille Correia Santos
Orientador: