O olhar do Agente Comunitário de Saúde para a sua prática profissional: trabalho previsto, trabalho real e a influência dos processos de formação

Diversos avanços foram observados no campo da saúde desde a instituição do Sistema Único de Saúde (SUS), onde a Estratégia de Saúde da Família (ESF) foi se estabelecendo como principal forma de reorganização da atenção à saúde, deslocando o foco hospitalocêntrico e valorizando as ações de prevenção e promoção da saúde. Os Agentes Comunitários de Saúde fortaleceram o enfoque territorial, contribuíram para que a educação em saúde ganhasse destaque tornando-se trabalhadores com papel central na mudança de modelo. As ações dos ACS geram impactos positivos sobre os determinantes e condicionantes da saúde. O presente estudo tem por objetivo promover a discussão sobre a relação entre a qualificação e a formação profissional do ACS e seus reflexos no cotidiano da sua pratica e, de forma mais específica, identificar os processos de que estes sujeitos indicam com mais relevantes. Para isso, analisou- se dados de entrevistas com 20 ACS das cinco regiões brasileiras, parte de um projeto mais amplo, de base qualitativa. Com base na análise de conteúdo das entrevistas foi possível compor duas categorias de análise: “o saber acumulado do ACS” e a “valorização das atribuições sob a ótica do próprio profissional”. Como fruto da primeira categoria foi possível registrar que os ACS passaram por alguns processos diretamente voltados para a prática profissional, com destaque ao PROFAE e CTACS; bem como cursos curtos e pontuais sobre temas especificamente ligados às atividades de coleta de dados ou temas relacionados as linhas de cuidado ou a epidemia de arboviroses. O ACS ressalta a importância do conhecimento empírico adquirido na rotina e nas trocas com os outros
colegas de trabalho, sendo a principal referência o enfermeiro. Quanto à segunda categoria é possível observar a dicotomia entre o trabalho interno/burocrático e o trabalho no território, o qual é valorizado e reconhecido pelo ACS. Há, entre os entrevistados, dificuldade em identificar que atividades lhe são formalmente previstas. Conclui-se que o ACS atribuiu valor às raízes de atuação, o trabalho educativo no território e que o trabalho real é mais amplo que o trabalho previsto. Indica-se que a incorporação de inúmeras atividades se deve ao déficit de profissionais e a forma vaga com que as políticas de saúde tratam estes trabalhadores, em especial o principal documento que norteia a atenção básica a Política Nacional de Atenção Básica.

Data: 
2020
Autor: 
Monique Nunes Fiuza Dias