Metas para que te quero? Algumas reflexões sobre os novos modelos de gestão e gerenciamento do trabalho e seus efeitos nos trabalhadores de uma equipe da Estratégia Saúde da Família do município do Rio de Janeiro

O presente estudo teve por objetivo identificar quais as penosidades presentes no cotidiano do trabalho de uma equipe da Estratégia Saúde da Família (ESF) do município do Rio de Janeiro, a partir das percepções desses profissionais de saúde sobre o trabalho na atenção primária sob a égide de novos modelos de gestão e gerenciamento do trabalho, implantados no município do Rio de Janeiro após 2009. O contexto do estudo remete ao processo de reestruturação produtiva e aos novos modos de gestão e gerenciamento do trabalho que vem sendo implantados tanto em empresas privadas como em serviços ou empresas públicas. Essas transformações foram incorporadas à dinâmica dos serviços públicos, de acordo com a lógica neoliberal e de reformas administrativas do aparelho de Estado, como resposta à crise capitalista do Estado do Bem-Estar-Social e do modelo de produção hegemônico fordista-taylorista, sob o discurso da promoção da melhor eficiência da máquina pública. No Brasil, essas transformações nos serviços públicos foram sendo executadas durante a década de 1990, como nos serviços de saúde, os quais tinham sofrido mudanças substanciais, principalmente em seu modelo assistencial, com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS) e da ESF. Por conseguinte, várias repercussões e contradições dos novos formatos gerenciais vêm se apresentando no cotidiano do trabalho, principalmente no que tange à subjetividade e às experiências vividas pelos trabalhadores no ambiente de trabalho. Com isso se retoma a discussão em torno de aspectos que ressignificam o sentido do trabalho, tornado o mais explorado e mais difícil de ser suportado, gerando o que tem sido denominado pela Sociologia do Trabalho francesa de penosidades. O estudo foi realizado numa clínica da família do Rio de Janeiro, inspirando-se na etnografia de caso ampliado, desenvolvida por Michael Burawoy e utilizou a observação participante com a realização de entrevistas semiestruturadas com trabalhadores de uma equipe da ESF dessa clínica. Após análise do diário de campo e das entrevistas, verificou-se a predominância de mulheres na equipe estudada, correspondendo à tendência da feminização da força de trabalho na saúde. Além disso, foram caracterizadas como penosidades: a jornada de trabalho extensa, a constante interação com os usuários, o excesso de demanda de trabalho, a exigência de polivalência e mudança constante de funções no ambiente de trabalho. Ressalta-se a necessidade de aprofundar o estudo das contradições entre os valores e aspectos que envolvem esse o modelo de gestão e gerenciamento do trabalho com a lógica do cuidado e outros valores preconizados historicamente pela reforma sanitária e na construção do SUS.

Data: 
2017
Autor: 
Renato Penha de Oliveira Santos
Orientador: