As implicações da imigração venezuelana sobre o trabalho dos Agentes Comunitários de Saúde do município de Pacaraima

Nesta pesquisa, discutimos as condições de trabalho dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) que atendem aos cidadãos venezuelanos que se encontram no município Pacaraima, estado de Roraima, localizado na fronteira do Brasil com a Venezuela. Uma crise (econômica, política, social) de grandes proporções vem assolando o país vizinho, fazendo com que os venezuelanos atravessem a fronteira e busquem refúgio e melhores de vida no Brasil, concentrando-se em todo o estado de Roraima, em especial no município fronteiriço de Pacaraima, instalando-se em condições precárias em prédios públicos, terrenos baldios, praças, sem a mínima infraestrutura necessária. Desde dezembro de 2016, o estado de Roraima decretou Estado de Emergência em Saúde Pública, pois com a entrada dos Venezuelanos via Pacaraima, aumentaram assustadoramente os atendimentos nos serviços de saúde, sobretudo, na Atenção Básica. O Agente Comunitário de Saúde (ACS) tem um papel de destaque no atendimento aos imigrantes, já que é considerado o elo entre a comunidade e as políticas públicas. A pesquisa foi desenvolvida com abordagem qualitativa. Os sujeitos desse estudo foram 11 Agentes Comunitários de Saúde (ACS) das Equipes de Saúde da Família (ESF) do município de Pacaraima, os quais atendem aos cidadãos venezuelanos. Estes responderam a um questionário auto aplicativo, pré-codificado, anônimo e com perguntas fechadas, envolvendo variáveis que permitiram traçar o perfil socioeconômico destes profissionais. Posteriormente, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com 10 ACS, sendo 06 Agentes Comunitários de Saúde das duas equipes da Unidade de Referência da Família e 04 Agentes da equipe do Posto de Saúde do Suapi, considerando-se os que trabalham há mais tempo na Atenção Básica e que atendam ao critério de seleção dos sujeitos. Os resultados apontaram que os ACS de Pacaraima são todas mulheres, a maioria casada, possuem no mínimo o ensino médio, numa faixa etária que vai dos 21 a 51 anos de idade. Os relatos demonstraram que o trabalho do Agente Comunitário, principalmente em áreas de fronteira, é difícil e muitas vezes desgastante. Na maioria das falas, aparece o estresse, o sofrimento, mas também a solidariedade para com os imigrantes que deixam seu país de origem em busca de melhores condições de vida. Observamos que as condições de trabalho das ACS foram alteradas com a chegada dos venezuelanos, o que se configurou em uma maior carga horária de trabalho, visitas domiciliares mais complexas e demoradas, aliadas a dificuldades com o idioma, a insegurança e o medo de sofrerem algum tipo de violência. Concluímos que os problemas de saúde de Pacaraima são grandes e bem preocupantes, e que é urgente lutar por melhores condições de trabalho das ACS.

Data: 
2019
Autor: 
Rivena de Siqueira Dias
Orientador: