A Educação Profissional em Saúde em um setor de Educação Corporativa: “criação de monstros áridos, de olhos ágeis e mãos firmes?”

Em tempos neoliberais, a educação é utilizada pelas instituições empresariais como um dos fatores para agregar valor à corporação. Buscando a sociabilização dos indivíduos à ótica hegemônica, emergiu no início da década de 1990 no Brasil, os setores de educação corporativa, buscando conformar os trabalhadores através de “ações educativas”, e a comunidade a partir das atividades de responsabilidade social. Neste estudo, analisamos as ações empregadas pela Fundação Unimed, que se constituí enquanto setor de educação corporativa para o Sistema Unimed. Esta instituição iniciou-se na década de 1960 como uma cooperativa médica de saúde que alegava pretender resgatar o papel social da medicina, ao longo dos anos sua estrutura cooperativista é substituída por ações de cunho empresarial. Assim, no trilho das instituições de negócio, a FU passou a investir na conformação ideológica de seus trabalhadores, fornecedores, clientes e comunidade social, ou seja, sua “cadeia de valor”, na concepção de Perelman (2005) denominamos de “auditório”. Contextualizamos nosso objeto de estudo a partir da entrada do neoliberalismo no contexto nacional, onde o capital passa a desqualificar o papel do Estado no tocante as questões sociais, e falaciosamente afirma assumir estas atividades denominando-se até mesmo como “agente educador”. Objetivando criar um consenso ao seu “auditório” a partir das atividades que desenvolve (Pós-Graduação Latu Sensu, Cursos de Capacitação, Cursos de Aperfeiçoamento, Educação a Distância e Responsabilidade Social), a FU se vale da persuasão, onde objetiva a “adesão dos espíritos” a fim de materializar seu processo de sociabilidade hegemônica. Compreendemos que estas ações de cunho neoliberal estão pautadas no âmbito da Teoria do Capital Intelectual (Capital Humano, Capital Estrutural e Capital de Marca) que busca (con)formar os indivíduos à ótica dominante. Apoiamo-nos nas reflexões teóricas do autor italiano, Antonio Gramsci, para sustentar nossa crítica ao modelo de conformação desenvolvido pelas empresas. Em meio ao crescimento do setor saúde sob o respaldo do neoliberalismo, compreendemos que a formação desenvolvida no interior da FU está arraigada a uma dominação societal que utiliza a educação profissional numa perspectiva “interessada”, onde limita a formação humana aos interesses da corporação. Assim sendo, compreendemos que a educação profissional em saúde não deve se limitar a “criação de monstros áridos, olhos ágeis e mãos firmes” (GRAMSCI, 2004a), ao contrário compreendemos a educação como um espaço contra-hegemônico de formação crítico-emancipatória.

Data: 
2010
Autor: 
Nayla Cristine Ferreira Ribeiro
Orientador: 
Aparecida de Fátima Tiradentes dos Santos