AÇÕES DE ENFRENTAMENTO DA COVID-19: mobilizações sociais em favelas do Rio de Janeiro

O objetivo do presente trabalho foi descrever e discutir as experiências de enfrentamento da Covid-19 formuladas e implementadas por mobilizações sociais de favelas da cidade do Rio de Janeiro. Partimos do pressuposto de que as ações que têm origem nas favelas e o protagonismo dos sujeitos que vivem nesse território, inserem-se num quadro de participação social e de lutas por melhores condições de vida, que afirmam a saúde como direito. Os objetivos do estudo foram: identificar os eixos de atuação dessas organizações coletivas; caracterizar as principais ações desenvolvidas em cada eixo e sua relação com as necessidades da população; mapear as parcerias estabelecidas para viabilizar as ações e, refletir sobre a relação desses movimentos com os mecanismos de proteção social que emergem do poder público durante a pandemia. Como técnicas de pesquisa, incluíram-se a análise de documentos e entrevistas com lideranças comunitárias das seguintes mobilizações sociais organizadas: Grupo Eco /Favela Santa Marta; Coletivo Fala Akari /Favela de Acari; Frente de Mobilização da Maré /Complexo da Maré e Coletivo Favela Vertical /Favela da Gardênia Azul. A partir do estudo foi possível confirmar que as principais ações se organizam nos eixos: insegurança alimentar; apoio ao trabalho; comunicação popular e informação e, medidas de prevenção da Covid-19. As ações implementadas buscaram responder às necessidades que sempre estiveram presentes nesses territórios, mas, que no contexto da Covid, precisaram de respostas urgentes, ainda que de alcance limitado. Ao longo das entrevistas, distinguimos dois tipos de articulação: externa e interna, ambas visavam prover recursos materiais imediatos para responder às necessidades emergenciais. Nosso estudo captou uma frágil articulação com estruturas do poder público, não identificamos nem instituições que desenvolveram projetos mais permanentes, nem canais de financiamento que permitissem que as ações tivessem maior abrangência e continuidade. Também não identificamos formas de participação mais estáveis em espaços de construção de políticas voltadas para a favela, ainda que somente nesse contexto da pandemia da Covid-19.

Data: 
2022
Autor: 
Rayla Barcellos Barbosa