Colonialismo, terra e saúde na luta do povo Xukuru do Ororubá: desafios para a construção da Atenção Diferenciada
A dominação colonizadora e o apagamento cultural-ideológico resultaram no estabelecimento de novas estruturas e relações de poder nos territórios do Hemisfério Sul que foram invadidos e colonizados, sob uma visão eurocêntrica e capitalista imposta às relações sociais pré-existentes. Por conseguinte, essa perspectiva também foi imposta às práticas de saúde, que foram reduzidas à lógica biomédica. Diante disso, a presente dissertação busca discutir a relação entre colonialidade, terra e saúde no território Xukuru do Ororubá (Pesqueira, Pernambuco) no contexto de construção da Atenção Diferenciada. Para tal foi realizada uma revisão bibliográfica sobre colonialidade do poder, saber e ser, sobre a história do povo Xukuru do Ororubá e sobre as políticas de saúde indígena no Brasil. A partir da análise documental das cartas das assembleias do povo Xukuru foram criadas quatro categorias de análise dos temas de interesse para este trabalho, a saber: 1. Colonização; 2. Decolonialidade; 3. Natureza sagrada; 4. Saúde e Atenção Diferenciada. A construção das políticas de saúde indígena se dá em um processo permanente de lutas, disputas e conflitos, com participação social intensa, mobilização dos povos indígenas para garantir seus direitos básicos. Uma possibilidade para dar sentido à Atenção Diferenciada, na teoria e na prática, é aliar educação e interculturalidade ao pensar a formação dos trabalhadores do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena. A forma de refletir e construir a saúde Xukuru reafirma a todo tempo que o caminho é o oposto do que é imposto pelo capitalismo e pela modernidade, e escapa da lógica predatória e promovendo o respeito à natureza e a integração ser-humano-natureza, dando sentido à construção da Atenção Diferenciada. Dessa forma, está alinhada à perspectiva decolonial, uma vez em que promove diálogos entre diferentes saberes e práticas de cura, contribuindo para um modelo de saúde mais justo, equitativo e sustentável, dando sentido para a Atenção Diferenciada no Subsistema de Atenção a Saúde Indígena (Sasi-SUS) no território.